Há uma semana, nos fundos do escritório, geralmente durante a manhã, enquanto trago a fumaça de meu cigarro venho reparando num casal de borboletas. Às vezes, a dupla voa em conjunto, sem nenhuma sincronia, mas com uma graça de tirar a concentração. Outras vezes, uma fica pousada numa pedra, na parede, enquanto a outra saracoteia leve, iluminada pelo sol gostoso das manhãs de outono.
Fico olhando. Apago o cigarro e antes de voltar pra minha mesa, a imagem colorida já desapareceu, mas fez um bem danado. É muito diferente!!! Acho que as borboletas, estão no ranking de imagens mais reproduzidas do planeta. Elas estão marcadas pra sempre nas costas, nos pés, nos ombros em forma de tatuagens. Estampam camisetas, ganham formas metálicas em brincos, anéis e colares. Estão em paredes de quarto de meninas e sempre atuam como coadjuvantes ondes existam desenhos de fadas, flores, árvores, enfim estão em qualquer tentaviva de demonstração de paraíso.
Mas em nehuma destas demonstrações artísticas se consegue captar a leveza de se ver uma borboleta "ao vivo". Acho que é como olhar um bebê...quando olhamos um bebê, instintivamente sorrimos. Ao ver uma borboleta, sem perceber, a gente fica, por uma fração de segundos, egoísta... a gente pensa em sorte, pensa em poesia, pensa em ser (mais) feliz, pensa em bons fluídos. Mesmo querendo todas estas coisas boas só pra gente, este sentimento egoísta, dura pouco... passa rápido, quase não dá pra acompanhar...assim como o bater das asas deste inseto colorido.
Acho que foi por isso que, antes de chegar à minha mesa, já estava pensando em outra coisa, mas foi tão bom.......ser egoísta por inspiração de duas borboletas.
Hoje de manhã, não fui pros fundos do escritório....Cheguei e comecei a trabalhar e, de repente, pela janela da minha sala entrou voando em soluços uma das metades do casal. Voou, leve e atrapalhada, mas bela e graciosa e pousou na parede.
Tive pensamentos egoístas... Suspirei e logo já estava de volta ao trabalho.
Denise, jornalista que empresta seu talento para o escritório, chegou até a porta da minha sala perguntou ou respondeu alguma coisa sobre o trabalho e, antes de sair, viu o bichinho pousado. Instintivamente soltou um "olhaaaaaa!!" daqueles bem longos e calmos....deu um sorriso para ela mesma, se virou e voltou para sua mesa....com certeza voltou pensando em sorte, em poesia, em felicidade....com certeza foi mais uma pessoa que, inspirada e "fisgada" pelas borboletas praticou um egoísmo do bem. Sorte de quem viu as borboletas antes que elas pusassem em outro lugar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirvejo borboletas
ResponderExcluirvejo flores,
vejo dias claros
vejo luzes sem fim
vejo um imenso mar
nesse mundo que se quer
irá se acabar!