quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Polir ou lapidar?


O jeito que somos, o que fizemos, os projetos que teremos. Passado, presente e futuro. Parar para avaliar a pedra, a forma que temos ou perceber no que nos transformamos é justo e necessário perguntar: Polir ou Lapidar?
Quero os dois. Preciso de polimento para voltar a mostrar as formas que tenho, os vícios que venci, para evidenciar os erros e as cicatrizes. Preciso de polimento para voltar a brilhar, porque dependendo de onde bate a luz, por onde entra o sol, deixo de mostrar, esqueço de lembrar e escondo sem querer as nuances e até o que deveria estar descaradamente escancarado.
Opaco e sem brilho deixo de acreditar, nem lembro que tenho ombros largos para carregar fardos de todos os tamanhos, deixo de me declarar apaixonado e não sou o que sou.
Também preciso de lapidação. Quero lapidar a parte da pedra que está bruta, seca e sem forma. Preciso lapidar esta parte de mim não porque a falta de estética me incomoda, mas porque preciso lapidar e esculpir o que ainda é puro e assim dar a cara e o jeito que combinem, que traduzam os mais de quarenta anos de existência.
Existência que me fará tocar a pedra com a humildade de quem ainda está aprendendo, com a calma de quem não tem pressa de descobrir o melhor formato e a certeza de que as curvas, os vincos, as entranhas deixadas na pedra serão para sempre.
Da mesma maneira que quero lapidar e polir, também preciso de mãos, vozes e olhares sábios e mornos que, com uma força frágil, me moldem com a sabedoria dos artesãos que fazem um pouco de cada vez, mas nunca deixam nada por terminar, porque cada toque na pedra, em sua essência, deixa o trabalho pronto e definitivo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Simples assim


Quando a garoa chega de surpresa - uma revista sobre seus cabelos.
Quando não se quer largar - uma cadeira tem que ficar vazia.
Para saborear melhor - um prato pra dois.
Para atravessar a rua - de mãos dadas é mais seguro.
Para não esquecer o gosto e o cheiro - guarde a rolha.
Para matar a saudade - abrace muito antes de beijar.
Para sacramentar a intimidade - empreste seu pijama.
Sempre que puder - muita conversa e várias xicaras de café.
Para esquecimentos involuntários - broncas lights.
Para se ter certeza - feche os olhos e inspire.
Para encurtar a distância - diga o nome do seu perfume.
Para se mostrar por inteiro - virtudes e defeitos sem rodeios.
Para ficar feliz e sereno - faça tudo isso novamente.
(PJ)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Véspera


Hoje, domingo, dia confuso.
Dia de espera pela semana.
Dia que não acaba.

Véspera de tanta coisa boa.
De tanta coisa chata.
Vai saber?

Dia que vira noite.
Noite que promete insônia.
Justo na véspera de tanta coisa por fazer.

Sou traído pelo relógio.
E, enquanto escrevo, o domingo acaba de acabar.
Começa a segunda silenciosa.
Com algumas horas de sono entre o agora e a manhã.

Escrevo pedindo por uma segunda que não começou.
Por uma segunda que não amanheceu.
Então, que amanheça a segunda...
Uma segunda inspirada, calma e corajosa
Uma segunda chance...
Para me tranquilizar,
Para acertar,
Para explicar,
Para convencer,
Para escrever,
Para fazer valer,
Para ser útil,
Para produzir,
Para pedir,
Para ligar,
Para ouvir,
Para ter certeza que,
na véspera de terça
estarei melhor.
(PJ)

sábado, 5 de novembro de 2011

Anunciação


Na bruma leve das paixões
Que vem de dentro
Tu vens chegando
Prá brincar no meu quintal

A voz do anjo
Sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido
Já escuto os teus sinais
Que tu virias
Numa manhã de domingo
Eu te anuncio
Nos sinos das catedrais...
(Alceu Valença)